5 de dez. de 2009

Da filosofia universitária e da nossa cagalhonice

 

O pensamento virou mercadoria.

O adorno universitário virou a purpurina burguesa capaz de encarecer o pensamento, de forma a melhor (mais caro) vendê-lo para nós, incautos idiotas ávidos pela sagrada unção do título.

Da mesma forma que doutos professores de filosofia, fantasiados de viajantes historiográficos, fingem percorrer o passado oficial da filosofia para melhor resistirem a este mesmo passado oficial (quando na verdade estão se colocando no sentido da História para banharem-se da aura justificada historicamente por esta mesma História), nós, alunos, acabrunhados diante do titânico poder que é dado aos sacerdotes do saber, fingimo-nos felizes diante da precária, alienante e mal contada historinha que nos apresentam nas aulas. É simples: basta olharmos o valor que atribuímos às notas (para livrarmo-nos o quanto antes daquilo tudo com nosso venerado título), em comparação com o valor que damos ao conteúdo…

É tudo uma grande novela. Mesmo o pensamento contrário, crítico, ácido, negador está preso no macro processo de produção e reprodução do real. Estamos fadados, por essa dinâmica, a morrer no fingimento, como baratas nos debatendo no estômago de Behemoth.

Foucault e os livros de auto-ajuda se complementam. Contra a atividade enérgica dos utópicos (arrogantes, prepotentes, impacientes, radicais… eis algumas das alcunhas que recebo o tempo inteiro), a estratégia que amesquinha a força e inviabiliza o impacto. Contra as subjetividades de aço... a vontade de fazer da filosofia um manual para viver como as plantas.

A concentração do poder e a articulação havida entre os detentores de poder (do Vaticano aos Centros de Ciências da Educação...) fazem emanar pela sociedade uma lógica, uma dialética niveladora, cerceadora dos ímpetos individuais. O orgulho vira prepotência, a humildade... uma virtude. Tudo é pensado sob o prisma da mediocridade amorfa.

O método científico é uma arma contra as subjetividades. Com ele, nossos cabedais vernaculares são atirados na privada. O sentido que as coisas representam para nós não podem ser considerados. Vivemos sob a ditadura dos fatos. E só é fato aquilo que algum gordo imbecil determinou em seu gabinete com ar condicionado... Diante dos fatos, às favas a imaginação teórica...

Se a filosofia contemporânea demoliu os fundamentos ontológicos erigidos desde a antiguidade, os filósofos de hoje refugiaram-se na Universidade para nela forjar um fundamento para si... e dela, apedrejam os que subsistem do lado de fora.

Portanto, meus caros, não vislumbro saída: se o pensamento é mercadoria e a forma de lidar com o pensamento é seu encarecimento... Fodam-se as convenções, as linguagens padronizadas e padronizantes. Fodam-se os conceitos enlatados por Doutores. Fodam-se os métodos interpretativos e as dinâmicas catadoras de fatos para a legitimação da dominação.

Que uma nova abordagem da filosofia seja pensada para além dos muros dentro dos quais se escondem esses espremedores de culhões

3 de dez. de 2009

Do Riso dos Leões...

(ironia onipresente...)


24 de nov. de 2009

A Crítica Dos Teus Próprios Valores - Desde E Para Si

Camelo, leão, criança e o “triângulo”, como “somatória maior”, em que a afirmação de valores, ou ‘ser aquilo que você é’, se torna uma constante da emanação da escolha em vontade, de acepção postural multifacetada ou querer puro de vida “interpretante”, no Momento Presente.

A alegoria antes feita foi a de “o todo é maior do que as partes”, sendo o leão pós-acepção-de-criança, aquele que o próprio Nietzsche parece se apossar e deixar nas entrelinhas de ideal, subentendido que seja uma postura em somatória afirmativa, ativa, de escolha em adotar qualquer uma das formas, atingindo o “além-do-homem”. Não que seja a melhor, mas que em Seu sistema pessoal de valores, assim é, tanto em forma de recusa “vivenciais” quanto a de mundificar terrenamente quaisquer valores viventes – pois, não se pode “viver” sem eles, por mais complexos ou simples que possam ser. Aqui entra a honestidade de ser aquilo que é.

A criança-camelo, o leão-criança, enfim, o ponto que quero chegar é, desde a mera concepção de “criança-evoluída”, sua acepção como tal consciente e possível de atuação como qualquer postura antes posta, tem seu domínio de extensão para-além da comum figuração alegórica, símbolos didáticos ou qualquer que sejam os conceitos pré-compreensão simples básica. Sua finalidade parecer ser, prática-poética e Nietzsche parece (tal como Kant ou Schopenhauer que realizaram um enorme contructo teórico em Epistemologia/Ontologia para depois de “feito-amém”, poder desembocar na Ética, Política, Moral – não que tenha uma clara “linha-histórica-clara” nisso), adotar em suas obras, um “além-do-homem”. E a meu ver, esse além-do-homem, não é (e como poderia ser?) mera criança tal como em Zaratustra se descreve, mas sim, aquele ‘todo transmutador’, afirmador da vontade de poder, ou seja, se apossando da “alegoria” que for, ativamente e afirmativamente, segundo seus próprios valores moldados, remexidos (dos quais não se pode escapar completamente).

“É lógico” que sejam “simbologias universais”, ilustrações, porém, não meramente didáticas ou alegóricas(em sentido de pura perfumaria&cosméticos), pois toda a fundamentação do além-do-homem vai ser “muito conversada” por estes campos por ritornelos potenciais. A própria linguagem, aqui, é “universal”, enfim tudo que não é universal é particular, segundo um ponto de vista. A própria atribuição inferencial em “isso É aquilo”, cerne da ontologia, faz uso de diversos entes com o conjunto quantitativo, e qualitativo, enfim, desde “gata roxa” até “paralelogramo que está esvanecido”.

Sobre a terminologia musical, diferentemente do habitual, afirmo que o “secar da música à sua história circunscrita desde e por si mesma”, em termos de análise musical, é por demais superficial ou seja, mundo pra tal é de eminência consideração. Salvo em apreciação puramente estética, sensitiva e “irracional”. A transvaloração de valores é transcendida, pois, pelo pós-passar histórico, não se pode especular valores de valores fora da própria vida. Por exemplo, o livro de Saithan, a selvageria inerente do homem, a dominação do homem 'lobo do homem', aquilo que entendemos como "maldade" são constituintes do homem - seu corpo, sua força, sua potência que pode ser compreendida como máquina de guerra, apropriada para batalhas, lutas, violência - precedem, em alguns séculos, a própria formação da religião judaica, precedem a própria vida do homem - segundo a Evolução - em sociedade. Além da cultura escandinava contemporânea, seus costumes e hábitos selvagens combinados com a afirmação de imanência exauridora do poder em escarnecimento “antropofágico”, devorador real – pelo “deus erístico” – em um banho de sangue, tem na diferença como circunscrita não-"negativadora", mas catacumbamente positiva em dor exaltadamente prazerosa.

Seria minha inocência demais em atribuir critério apenas musical em questão o mencionado, pois tal como na essência da “música” punk, skinhead ou dark (entendendo o que cada conceito significa, sem biltre reducionismo)...ela (e sua sonoridade estética na grande maioria das vezes só é um detalhe em um conjunto. À grosso modo, em questão a música em si é só um “revelador”, fator vetorial de um todo. "Ouvir o inaudito” - contra-senso, “temer o temível” - desejável, “sentir medo do medonho” - constituinte, não fazem porém parte dessa posição, pois desde o fundo do poço até o não-fundo-do-poço, “tudo é lucro obtido”, desde beber sangue podre de galinha até comer o buraco de órbitas oculares. Viver é viver e o que é a linguagem senão uma masturbação simbólico-metafísica. Eu não poderia atribuir categorias alheias-de-mim-mesmo, sem já estar me apossando das mesmas. O desconhecido é imanente, os valores sempre estarão condicionados pelo sujeito relativo desde/para. A alegoria “criança” parece não ser o “ideal” nietzscheano, já que o mesmo o previu apenas para o “mundo”, tal como um homem moderno. Para si mesmo, adotou uma postura leonina que não parece ser uma não-transpassada pela atuação de criança, mas uma além, portadora das três percepções. Os três papéis que é como vejo, e o 4ª, o leão afirmador me parece aquela que subjaz as três anteriores, como uma forma triangular quarta maior que suas partes constituintes.

Não podemos esquecer que o nómos foi criado por mera convenção, a phýsis com suas “leis naturais”, lei natural (para o direito, por exemplo) são determinadas. A Ética é um produto humano, histórico-temporalmente. (mesmo fazendo aqui a distinção entre Moral). Se as “leis de newton” ou a “lei de hooke” são postas em cheque, que dirá as “leis do homem”. O “eu” é que afirma e reafirma seus próprios valores. “A Ditadura Nazista foi má.” – Pra quem? “A Ditadura Capitalista é má.” – Pra quem? Perspectivas, tomar posição e querer a vida. Mesmo que esse querer seja algo “lunático” – torna-te quem tu és, não contradiga o Presente. – Filosofia Contemporânea? – Escreva literatura prosaico-poética, invente conceitos, escreva monografias... Toque, cante e dance. Largar a razão?

Quando não há fundamentos, referência, verdade, certezas, ponto de apoio, creio que Thelema, claramente, seja a lei que prevaleça. A lei “leonina”, ou a lei do fogo, daquelas “crianças” que sabem jogar, mudar e comandar segundo sua própria vontade (que para que existam suas afirmações, sejam também negadas).

Longe de ser uma “tese” não defendo esta e a contraponho como uma noção mutante pessoal, sem qualquer grado estático. A então acumulação de conhecimento e maquilar rebuscado, corresponderia a fase “juvenil”, “púbere” do “homem, dando espaço à maduridade do mesmo, na etapa “vividificadora” do homem universal, aqui sim, na conceituação(talvez o mais importante) daquilo que Nietzsche entende por “vida”. Tal como o próprio Nietzsche pareceu ter aceito e vivido, tal como todo moderno filósofo com seu umbigo e ponderações a partir dos próprios valores. Melhor ou pior e teorizações – qual o preço do leão? – a vida – que ele pós o conhecer profundamente como criança – pode atuar como leão, desde ela e nela mesma, mudando quando quiser. Quando eu perder a sanidade e a razão – constantes – poderei me esbaldar ou não-esbaldar no “?????”. Chamem de brumas do rio da barba da avó do Shakeaspere ou de escuro breu clarificador apocalíptico-absurdum iluminado. Do desconhecido, “infinito” ou mistério, o que se pode dizer? – toda a Filosofia ou tarefa do pensamento vai rio abaixo. O que dizer sobre, sem enlaçar, estratificar, imutabilizar o “Mistério” em palavras, sem o vandalizar e corromper, em sua essência? Reitero o máximo valor da Vida. Eu continuo com a razão, os afetos, as escolhas, com o “eu aparente” no sentido grego, como conjunto, decorrido por Nietzsche.

- Shakespeare: "There are more things in Heaven and Earth, Horatio, then are dreamt of in your Philosophy..."

20 de nov. de 2009

Camelo, leão, criança e?

Se existe a possibilidade de se estabelecer uma conexão entre a dialética hegeliana e as transmutações nietzscheanas, temos: o leão tem camelo e a criança tem os dois.

Avancemos: uma terceira transmutação (aquela que nos levaria a uma quarta categoria existencial), ensejaria a idéia de uma consubstanciação do camelo, do leão e da criança no que quer que adviesse como quarto momento.

Porém, camelo, leão e criança são categorias alegóricas, personagens conceituais, símbolos didáticos que reunem em si uma enormidade de elementos singulares que subsistem na alma dos particulares, e Nietzsche não tinha como conhecer a todos esses particulares, daí a exposição por símbolos universais e universalizantes.

Quando tentamos traduzir o, digamos, recheio interno de uma dessas categorias, a tendência é que esse recheio tenha a nossa cara, ou seja, tenha a cara de nossa singularidade.

Se sou adepto do som hardcore, se sou conhecedor da estética de um Marilyn Manson, por exemplo, diante do inaudito, do tenebroso, do obscuro horizonte aberto pela elucubração de uma quarta possibilidade existencial nietzscheana, é não apenas possível, mas provável que eu vá atribuir a ela as minhas categoria que, hoje, mais se aproximam do inaudito, do tenebroso, do obscuro horizonte daquela quarta possibilidade.

Em minha modesta opinião, isso soa, ainda, como a expressão do ideário moderno: controlar, determinar, dominar, prever, antecipar o devir… Por medo… E diria mais: forte carga moral, ainda, impregna tal antecipação que, se levarmos em conta a factibilidade dela no mundo contemporâneo, tem tudo para não se firmar, pois tal possibilidade seria sufocada e morta no mesmo instante em que abrisse os olhos.

Em outras palavras, numa tentativa de resumir a questão, pode-se dizer: essa tese profética, apocalíptica, ou, falando logicamente, esse sofisma do reductio ad absurdum, encontra-se, infelizmente, nos primordios do pensamento nietzscheano, ou seja, nada mais é do que uma interpretação moral de um fenômeno desconhecido. Repito: infelizmente, pois não foi dessa vez que o além-do-homem emergiu das brumas do rio de Lethe. Infelizmente.

Autoviolação de Valores

Quando o bem é o mal. E vice-versa...

O prazeroso é o poder, a vontade-desde-e-para-si, o dominar.

Que fazer depois que não há mais sentido em transvalorar os próprios valores? Depois da forma em inocência...

Qual o sentido em especular, teorizar, investigar valias de atribuição?







- Eis o "ser" triângulo como 4ª transmutação ontológica -