20 de set. de 2009

Paraíso brasileiro e a tirania da felicidade


Sol, praia, calor... (eu transpiro só de pensar nisso). Ando reparando em alguns fenômenos da mídia brasileira que vêm ocorrendo, especificadamente, a exaltação que se faz da tropicalidade do clima do nosso país. Sol-praia-calor constitui, para mim, um cenário demasiado nojento. Insolação, pescoço melado, areia na sunga, suor escorrendo pelo cofrinho, cheiro de sovaco... tantas coisas.
Certamente existe um exército que me repreenda por essa opinião. Muitas pessoas vão argumentar que os raios de sol estimulam a liberação de serotonina, neurotransmissor essencial para as sensações êxtase, prazer e alegria. Para essas pessoas, nada seria mais natural, portanto, do que exaltar o esplendoroso cenário sol-praia-calor... Bem, mas e daí?? Certamente existem diversos modos de se obter um bem-estar, talvez muito melhores do que torrar sob o sol escaldante. Sou à favor da variedade sensitiva: do direito à melancolia, à angústia, à dor, à loucura, entre tantas outras afecções, na medida que elas constituam um leque de sentimentos e sensações que devemos explorar para melhor conhecermos a nós mesmos.
Não quero dar a entender que sol-praia-calor seja algo insalubre, desnecessário ou ruim, porque, como já disse, busco a diversidade em nosso sentir. O problema que quero colocar é a supervalorização desse cenário dito "paradisíaco". Toda vez que, por exemplo, vejo a previsão do tempo do Jornal Hoje, aqueles apresentadores engomados (como geralmente têm que ser) inevitavelmente revelam a sua "inocente" opinião de insatisfação com a chuva e com o frio - principalmente nos finais de semana. Não estou duvidando de que essas opiniões sejam realmente as deles. Entretanto, por que eles fazem questão de expressar em rede nacional a sua indignação com o tempo nublado, chuvoso, frio?
Pensemos no turismo brasileiro. Do que dependem os pontos turísticos mais rentáveis? Dependem exatamente desse cenário de calor, sol e praia.

Parece-me que essa exaltação exacerbada do "paraíso", do "país tropical", se deve menos às opiniões pessoais do que à necessidade de se universalizar ideias que divulguem a imagem do cenário sol-praia-calor associado a um valor de perfeição. Quer-se que essas ideias sejam interiorizadas por cada indivíduo (como o telespectador da Sandra Annenberg). Assim, a mídia nos oferece esse cenário como um produto e a todo instante somos induzidos a idealizar um modo de vida que consuma esse "paraíso" brasileiro e feliz.
Estou ciente de que muitas pessoas dependem desse turismo, como, por exemplo, aqueles artesãos que possuem como único meio de subsistência a comercialização de seus artigos com os indivíduos que vêm de fora. Não falo com a pretensão de prejudicar as pessoas que se encontrar nesse grau de dependência. Minha reflexão está aqui para dar um tapa na cara de quem está lendo, de modo que o faça olhar alterar seu foco. nem que seja por um mínimo instante. Estou aqui para propor perspectivas diferentes e estimular (atiçar, provocar) o pensamento de quem me lê.

Fonte: Blog do pseudoanonimo