20 de nov. de 2009

Camelo, leão, criança e?

Se existe a possibilidade de se estabelecer uma conexão entre a dialética hegeliana e as transmutações nietzscheanas, temos: o leão tem camelo e a criança tem os dois.

Avancemos: uma terceira transmutação (aquela que nos levaria a uma quarta categoria existencial), ensejaria a idéia de uma consubstanciação do camelo, do leão e da criança no que quer que adviesse como quarto momento.

Porém, camelo, leão e criança são categorias alegóricas, personagens conceituais, símbolos didáticos que reunem em si uma enormidade de elementos singulares que subsistem na alma dos particulares, e Nietzsche não tinha como conhecer a todos esses particulares, daí a exposição por símbolos universais e universalizantes.

Quando tentamos traduzir o, digamos, recheio interno de uma dessas categorias, a tendência é que esse recheio tenha a nossa cara, ou seja, tenha a cara de nossa singularidade.

Se sou adepto do som hardcore, se sou conhecedor da estética de um Marilyn Manson, por exemplo, diante do inaudito, do tenebroso, do obscuro horizonte aberto pela elucubração de uma quarta possibilidade existencial nietzscheana, é não apenas possível, mas provável que eu vá atribuir a ela as minhas categoria que, hoje, mais se aproximam do inaudito, do tenebroso, do obscuro horizonte daquela quarta possibilidade.

Em minha modesta opinião, isso soa, ainda, como a expressão do ideário moderno: controlar, determinar, dominar, prever, antecipar o devir… Por medo… E diria mais: forte carga moral, ainda, impregna tal antecipação que, se levarmos em conta a factibilidade dela no mundo contemporâneo, tem tudo para não se firmar, pois tal possibilidade seria sufocada e morta no mesmo instante em que abrisse os olhos.

Em outras palavras, numa tentativa de resumir a questão, pode-se dizer: essa tese profética, apocalíptica, ou, falando logicamente, esse sofisma do reductio ad absurdum, encontra-se, infelizmente, nos primordios do pensamento nietzscheano, ou seja, nada mais é do que uma interpretação moral de um fenômeno desconhecido. Repito: infelizmente, pois não foi dessa vez que o além-do-homem emergiu das brumas do rio de Lethe. Infelizmente.

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