Na maioria das vezes em que digo para um religioso: – Eu sou ateu. Ele me responde: - Mas como você existe? De onde você veio? De onde tudo veio?
Mas nós, filósofos, como ensina Slavoj Zizek, não devemos ser apressados em responder as perguntas. Algumas perguntas contaminam nossas respostas… Talvez o mais interessante seja determo-nos diante do questionamento. Talvez seja mais frutífero filosoficamente analisarmos as verdades, as assertivas, as afirmações invisíveis por detrás das perguntas.
Vejamos:
Para o religioso, ao que parece, o que espanta é o fato das coisas existirem (“De onde as coisas vem?”, eles indagam). A existência é o problema por excelência. O problema da existência, para eles, deve ser resolvido... E eles resolvem com Deus.
Vamos olhar mais fundo: Se a existência é um problema, o não-problema, seria a não-existência. O aceitável seria o nada, mas como as coisas existem, instaura-se o problema, e o problema é resolvido com Deus. (Há um filósofo que dizia: – O místico é que o mundo exista…)
Se levarmos o raciocínio um pouco mais longe, podemos inferir que Deus é filho do nada; Ele nasce para compensar o desequilíbrio instaurado pela existência das coisas, do mundo. Ora! A doença do religioso reside precisamente aí: seu olhar vê erro, desequilíbrio no existir. Seu ideal é o nada. O equilíbrio seria não existir nada, mas, como existem as coisas, o religioso tenta “corrigir” a realidade criando um Deus que cria do nada (A morada primordial de Deus é o nada, poder-se-ia dizer).
É por isso que nós, não os filósofos (quantos doentes não há entre os filósofos?), mas os ateus, devemos, como dizia Nietzsche, transvalorar esse erro: O desequilíbrio é que é o nada, é a não-existência. O erro reside em Deus. A doença é o niilismo religioso.
Nossa saúde, nosso acerto, nossa coragem... é sabermos amar o que há, o que existe... seja ele de que forma for, seja ele bom ou mau… Mas desde que exista…
Rossellini extrai trechos inteiros de algumas das obras fundamentais do pensador, como O Discurso do Método (1637) e as Meditações Metafísicas (1641), para compor as ações “dramáticas” do personagem. São procedimentos teóricos de Descartes, cuja função seria fundar a autonomia do pensamento racional diante da fé. Vale dizer que, naquela época, toda démarche racionalista tinha de ser, também, uma negociação com a autoridade religiosa. Donde, nas Meditações, Descartes precisar, primeiro, ocupar-se das provas da existência de Deus, para apenas depois afirmar que o Cogito (a Razão) se sustenta por si só. “Eu sou, eu existo”, deduz, pelo simples fato de pensar. A conclusão entrou para a história do conhecimento como a frase famosa “Penso, logo existo”.
Com direção do mestre italiano Roberto Rossellini (Roma, Cidade Aberta), Santo Agostinho é uma cinebiografia de Agostinho de Hipona (354 – 430), um dos grandes nomes do Cristianismo e um dos maiores filósofos da Humanidade. Rossellini focaliza a principal fase da vida e da obra de Agostinho: o momento em que se torna bispo de Hipona. Com rigor histórico e realismo, o filme mostra seu combate aos heréticos donatistas, a sua famosa oratória, suas idéias e a realização de seus principais livros, como “Confissões” e “Cidade de Deus”. Inédito no Brasil, Santo Agostinho é um dos melhores trabalhos de Rossellini e uma oportunidade imperdível de se conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra de Santo Agostinho.
Como uma das nossas propostas é disponibilizar o máximo de materiais relacionados à filosofia, nós ofertamos aqui um scan *parcial* desse HQ. A qualidade não é muito boa, mas como é só a nível de divulgação, confiram e depois adquiram os seus exemplares!






