3 de jun. de 2009

A Mulher que traiu Apolo com Dioniso

Quando o deus veio me visitar hoje, na minha cova fria e úmida, fiquei de pé. Não deixei que me tomasse a cabeça, agarrei-me a Gaia mãe levantando-me e soprei a terra seca na névoa-luz que me envolvia. Ele tomou forma. Uma forma dourada como lhe convinha. Chamei-lhe pelo mais antigo nome que conheço, conjurando e assim lhe disse:

Chega de luz, de Sol, de rédeas áureas!

Chega de Apolo perfeito e reluzente, eu quero é Dioniso.

Escuridão.

Chega da solidão virginal do abismo...

Eu quero é Dioniso de frondosa mata.

Mistério, voluptuosidade e caos.

Chega de sacrifícios, prostração e devoção a você.

Vaidoso deus.

Chega de tanto Apolo em mim.

Que te contentes em dominar minha forma.

Assim o quero!

Quero teu braço de deus a me fazer bela.

Mas não mereço ser escrava tua, toda tua...

Quero Dioniso!

Quero me entregar ao vago, impreciso e nebuloso.

Quero sentir todo o meu imenso poder, deitando com Dioniso.

É a mim que Dioniso invoca.

Já me deitei com Dioniso.

Chega Apolo, chega!

Quero ser deusa também.

Chega Lobo de Sol!

Sou mortal é verdade, mas livre.

Vou ter com Dioniso de amplos e distraídos braços.

Vou viver sem nome.

Vá-te deus Sol de louros e perfeitos cachos.

Vá-te que hoje mesmo dormirei no Olimpo.

Não sou Eritréia!

Não quero seus anos.

Não sou Cassandra

Nasci já com olhos de fogo.

Sou mortal.

E agora eu quero é Dioniso.

Apolo então se foi.

Até quando?



0 Comments: