19 de mar. de 2009

Borro Ganz

''Caro mestre: passei dois anos entre eles e cheguei a algumas conclusões. Os brancos desprezam os menos brancos, mas gastam horas na praia com bronzeadores para ficarem mais escuros. Eles têm leis mas pagam fortunas a advogados para quebrarem essas mesmas leis. Um homem que mata outro é condenado à morte, mas se matar muitos no campo de batalha é considerado um herói, ganha medalhas e lhe proporcionam uma vida muito confortável, ocasião em que enlouquece pensando nos que matou. Acreditam que seu Deus nasceu de uma virgem e o comem simbolicamente em estranhos rituais numa língua morta. Em outras religiões cortam um pedaço do aparelho reprodutor do bebê logo que ele nasce.

A mulher que trai o marido é desprezada, mas o homem que tem muitas amantes é admirado. Os homens adoram tirar a virgindade das mulheres, mas se algum homem tirar a virgindade da filha deles, são capazes de matar. Os homens usam um pedaço de pano no pescoço que, aparentemente, não serve para nada. As mulheres equilibram-se sobre tacos, furam as orelhas, besuntam os lábios e sangram uma vez por mês. Ambos aspiram rolinhos de papel cheios de fumaça, mesmo sabendo que isso os conduzirá à morte.

Quando um pobre rouba um pão é chamado de ladrão. Quando um rico rouba dinheiro que poderia acabar com a fome no mundo é chamado de esperto. Dizem que a vida após a morte é tão boa que a chamam de céu mas ninguém quer ir para lá. O último papa, João Paulo II, que tanta propaganda fez do céu, lutou até a morte para evitá-la e assim adiar sua ida ao lugar maravilhoso. Os que se suicidam, porém, não podem ir para o céu.

Só comem animais com cornos como vacas e cabritos, mas evitam animais sem cornos como burros e cavalos. Consideram normal um velho casar-se com uma jovem, mas ridicularizam a velha que se casa com um jovem. Acreditam na honestidade de políticos que gastam dez vezes na campanha o que receberão por quatro anos de salário. Chamam a Câmara e o Senado de Casa do Povo mas só colocam lá dentro representantes da elite. Toleram o álcool e o tabaco mas proíbem outras drogas que, por serem proibidas, são as mais usadas.

Recompensam com carros, jóias e belos vestidos as suas mulheres que não fazem nada e dão um salário que mal dá para viver para as mulheres que trabalham diariamente para eles. Consideram a prostituição uma praga social, mas vêem com naturalidade os clientes das prostitutas. Dizem que o homem é a obra-prima da natureza, mas tratam seus gatos e cachorros bem melhor do que seus empregados. Declaram guerra a outros países que em nada os ameaçam - o último foi o Iraque - mas mandam apenas os mais jovens, que jamais pensaram em declarar guerra a ninguém, para morrer nos campos de batalha.

Consideram o ouro o metal mais precioso do seu mundo quando é exatamente aquele que não tem a menor utilidade. Gostam de ver mulheres nuas, mas as obrigam a andar vestidas. Fazem de tudo para conquistar a mulher do próximo mas quando é o próximo que conquista a deles transformam-se em assassinos. Educam os pobres para a violência e quando eles se tornam violentos, querem matá-los. Induzem homens e mulheres a comprar o que não podem através de uma máquina chamada televisão e quando eles compram e não pagam, afastam-nos da convivência social.

Seres inferiores, medíocres e patéticos como esses não merecem a menor atenção. Se lhes dermos algum tempo acabarão por destruir o próprio planeta. Espero que o senhor concorde que minha missão entre esses idiotas acabou e compreenda que estou ansioso para executar nova tarefa num planeta mais avançado. Seu, Borro Ganz'

Fausto Wolff

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