25 de mar. de 2009

Ontologia depois de 5 gramas de pó

- O que É?
- É, o que é o Ser.
- E qual é a função do Ser?
- Ser, e sustentar o que não é Ser, mas que é Estar.
- E o que é o Estar?
- É uma espécie de Ser, só que de validade sensível, empírica, passageira e, infelizmente, um tanto quanto ilusória.
- Por que ilusória?
- Pois o Estar nos é dado pelos sentidos e estes, sós, confundem Ser e Estar; Ser e Parecer.
- E quais são as implicações disso?
- Muitas vezes julgamos ser Ser o que é Estar.
- Acho que não estou entendendo.
- Um exemplo: você já se desiludiu com alguém? Já confundiu a natureza ilusória de alguém com a natureza essencial deste mesmo alguém?
- Não sei bem.
- Pense um pouco. Nunca julgou alguém, por exemplo, sábio, maduro, civilizado, compreensivo quando, na verdade, se tratava de alguém burro, idiota, infantil, selvagem, intolerante?
- Acho que sim.
- Bom. Estamos progredindo.
- Mestre, podemos voltar um pouco ao início da conversa?
- Claro! Como queira.
- Obrigado. Se o Ser sustenta o Estar, há uma relação entre eles. Uma conexão entre Ser e Estar, certo?
- Sim, certo.
- Então, penso, poderíamos obter um indício do Ser observando o Estar. A partir do Estar, posso chegar ao Ser, pois eles se inter-relacionam.
- Estás parcialmente certo.
- Como assim?
- Como estamos tratando de uma espécie de Ser em particular, devemos nos ater às características peculiares a esta espécie de Ser.
- E que espécie é esta?
- Ora, a espécie humana. Esqueceste de nosso exemplar inculto, incivilizado, infantil e intolerante?
- Ah! É verdade. E qual é a peculiaridade desta espécie de Ser que inviabiliza a conexão epistemológica entre Estar e Ser?
- A vontade.
- Como assim?
- A vontade de Ser, em quem não Seja, faz com que o Estar pareça Ser e confunda a nossa apreensão.
- E como isso se dá? Pode exemplificar?
- Algumas pessoas que não São, nem nunca Serão, esforçam-se por Ser, mas tudo o que conseguem é Estar. Conseguem Parecer. E esse Parecer confunde aqueles que buscam quem É de verdade.
- Nossa, como isso é sombrio!
- É, meu caro. Estamos falando de essências, de núcleos, de profundidades que subjazem às superfícies. Aqui, o ar é rarefeito. E quando você olha demais para dentro do abismo, o abismo passa a olhar para dentro de você... Já dizia um sábio...
- Deve sofrer demais quem sempre Estará, mas nunca Será de verdade.
- Sim. Da mesma forma que sofre quem É.
- Quem É também sofre?
- Sofre. Pois está fadado a procurar o Ser, seu igual, seu parente. Mas no palheiro do Estar, no palheiro do Parecer ilusório não achará nada que Seja.
- É o fado Humano: buscar o Ser.
- E o fado humano... Parecer Ser...

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