24 de mai. de 2009

Divagando um pouquinho


Desde meu primeiro contato com a filosofia de Heráclito de Éfeso, pressuposta sua antinomia onto-filosófica com a de Parmênides de Eléia, intuo que o grande problema da Filosofia é o descompasso intelectual do homem diante da indiferente e incessante mudança da realidade.


Precisamos existencial e antropologicamente dizer o mundo, mas o mundo como que foge de nós. Queremos dizê-lo, mas ele muda, ele corre, escorre por nossos lerdos dedos.


Às vezes o contrário ocorre: o mundo está lá, estático, paradinho, mas queremos pressupor seu devir, antecipar seu movimento... Então, o que fazemos amiúde: emulamos mentalmente um start para o tempo e imaginamos o que o mundo era e o que virá a ser no futuro...


Erramos tanto... E nos dois casos...


O que muda tende (nas mãos dos que querem dizer o devir) a ser enquadrado numa categoria qualquer. Às coisas são inventados locais supostamente organizados, ingenuamente adequados à imaginada natureza de tais coisas... Quanto erro! Uma fera, um monstro titânico jamais será enquadrado por "moïras" estabelecidas por seres medíocres e fronteiriços, assustados e invejosos, fraudulentos e mentirosos...


Por outro lado, quando o estático entedia e tendemos a querer explicar sua natureza, sua origem, seu devir confabulamos, mais uma vez alicerçados nas nossas supersticiosas teses, técnicas e preconceituosas crenças do senso comum, uma novela dinâmica dentro da qual jogamos as coisas, os fatos... as pessoas... Tudo, tudo deve estar na teia furada desses calculadores cujo cérebro descompassado não consegue entender a realidade a tempo (quando a entendem...).


Não há nem o pudor de se encarar o real com alguma constância na versão interpretativa. Penso que, imitando a mutabilidade do real, esses desesperados permitem-se mudar de opinião a todo e qualquer momento. Por outro lado, enraízam tantas outras opiniões no fundo do espírito que nem os maiores tsunamis de contraditoriedade são capazes de os mover do lugar...


Nietzschianamente, prefiro deixar meu instinto copular com o real. Permito que a intuição se acople tanto ao devir quanto ao tedioso estatismo do aparentemente imutável. O corpo, a cognição e a intuição se unem num poderoso bloco poroso que, ora como um raio, ora como um bailarino, atravessam a realidade gozando dela e com ela.


Largar os pés de chumbo é preciso!


Livremo-nos das lerdezas, do descompasso mental esquizofrênico, dos pés de chumbo que se fincam no chão, das exacerbadas sensibilidades e susceptibilidades pequeno-burguesas. Deixemos a morte morrer longe de nós.


Que reconciliem-se Apolo e Dionísio.


Que a música volte a tocar.


Que Tânatos se recolha ao seu mundo de falsidade, colossal esforço, mentira e medinhos tacanhos.


Voltemos a celebrar a Vida!

0 Comments: