24 de mai. de 2009

Quando os ópios se esvaem…

por Paulo Jonas de Lima Piva

“Ainda hoje, aprecio mais um porteiro que se enforca do que um poeta vivo”


Emil Cioran, Silogismos da Amargura


Que canções assobiariam desejos sem favos nem cifrões? Que nortes elegeriam as testemunhas da agonia do último Absoluto? Por mais que eu devore Satie, por mais que eu me entorpeça com os cambaleios de Rimbaud ou com os ares anárquicos de Ferlinghetti, sou incapaz de escorraçar de minha boca o acre crônico da minha desesperança, o hálito podre do meu desencanto. Ah se eu pudesse pescar truta na América com Richard Brautigan!... Ah se eu pudesse tagarelar teorias sobre o Absurdo com Camus, Roquentin e José Thomaz Brum em algum botequim do Leblon! Mas, à beira tarde, quando os poetas aflitos cercam dissimulados o corpo vazio do porteiro, nenhuma evidência é luminosa, todos os ópios esvaem-se em Nada...

Fonte: O pensador da aldeia

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