9 de mai. de 2009

Imagine

Eu posso até despi-la, começando pelos ombros, derrubando com o dedo, suavemente, a alça do seu vestido. Posso até me ajoelhar e acariciar com os lábios cada pêlo discreto ao redor do seu umbigo. Posso também virá-la, e ainda ajoelhado, beijar beijinhos no horizonte dos seus quadris enquanto desço sua calcinha de algodão pelas suas coxas, seus joelhos, seus pés...


 


 

Eu posso ainda penetrá-la lentamente olhando-a fundo, sem piscar, por entre suas pálpebras semicerradas e lânguidas. Eu posso também, com estas duas mãos que nunca viveram, percorrer toda a sua imensa, calma e gulosa nudez...


 


 

Mas por mais que você se desfaça em minha boca, que suas coxas espremam minha cabeça em espasmos, por mais que gozemos juntos, frente a frente, tudo será pouco: jamais serei a sua beleza, nunca por ela serei imunizado. Nunca serei esse sussurro que minha flor provoca, esse perfume de seu pescoço quente e úmido de suor, a vertigem de suas tatuagens, as formas perfeitas de suas mãos e punhos. Não, não serei. Por mais que você durma agora aliviada e feliz desprezando o edredon enquanto a observo da escrivaninha, nunca farei parte do Absoluto que seu corpo melodia, desintoxicado de todo espírito, significam nesta noite trivial de aporias.


 


 


 

Por Paulo Jonas de Lima Piva que, provavelmente, conhece minhas angustias...


 


 


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