1 de mai. de 2009

SOS Redação

Rapaziada:

Quem for semi-analfabeto, preguiçoso ou burro possui um novo recurso para se dar bem na produção de textos. É o serviço SOS Redação, oferecido pelo ex-leitor de cabeceira Janderson Bastos. Embora sua especialidade seja a narrativa, ele consegue fazer com primazia cartas, dissertações e até relatórios sobre férias.
Um de seus trabalhos, para uma aluna da Educação para Jovens e Adultos, está aqui exemplificado, para vosso deleite e possível interesse.

O TELEFONEMA

De novo o celular tocou. Aparelho maldito, toque irritante. E eu ainda tinha que aturar a insistente grosseria do rapaz. Fazia questão de chamar meu marido de vagabundo e marginal. Só não xinguei o estranho para não me rebaixar ao nível desse tipo de gente.

– Escuta aqui – dizia ele –, eu já dei queixa na polícia. A qualquer momento vocês vão ser descobertos. Sua hora vai chegar, dona. Você é uma cúmplice. Vai ser presa junto com ele.

– Cúmplice? – indaguei – Mas do que raios você está falando? Que papo é esse de ir presa, meu senhor?

– Não se faça de ingênua. Você sabe muito que bem esse celular é roubado!

Não suportei. Desliguei na cara dele mais uma vez. Imagine só o desaforo. Chamar-me de cúmplice e meu marido de ladrão. Mal sabia esse indivíduo o quanto tivemos que trabalhar para comprar nosso aparelho.

Logo depois, meu esposo saiu do banheiro, perguntando-me sobre o que havia acontecido e com quem eu estive falando. Respondi que não era ninguém importante, pois não quis deixá-lo preocupado. Eu estava sendo bastante cautelosa desde seu segundo enfarte, havia um mês. Se tinha uma coisa que realmente incomodava meu marido Osvaldo era ser acusado injustamente. Fiquei aflita só de pensar em sua reação, caso ele soubesse da possibilidade de a polícia estar atrás dele...

O telefone tocou pela terceira vez e desastradamente tentei desligá-lo. Meu marido, bem mais ligeiro que eu, tomou o aparelho de minha mão e atendeu a chamada. Neste instante, fiquei sem movimento algum. Só pude observar as reações de meu Osvaldo.

Primeiramente, o susto. Em seguida, a negação, as réplicas e o olhar confuso. Ele ouvia com indignação as palavras que vinham do outro lado da linha. Olhava para cima e para baixo, andava de lá a cá. De repente, ficou ofegante. Sua respiração alta e rápida me combaliam – compartilhei daquele ar de desespero. Vi em seu rosto uma expressão de agonia, e logo ele botou a mão esquerda em seu peito. Sem camisa, seu tórax nu guardava cicatrizes que tatuagem alguma seria capaz de dissimular. Não levou muito tempo para Osvaldo despencar no chão: enfarte fulminante. Meu marido estava morto.

Junto com Osvaldo, também caíra o telefone. Mas ao contrário do que costumava ocorrer, o aparelho permaneceu inteirinho. Com a queda, nada de bateria pulando para fora: simplesmente acionou-se o viva-voz. E enquanto eu ia a socorro de meu esposo, ainda sem ter aceitado a triste verdade daquele momento, pude, com clareza, ouvir cada fonema engendrado por aquela boca maldita, assassina e desconhecida:

– Alô, ainda está na linha? Meu senhor, mil desculpas pelo incômodo. Acabei de observar o visor do meu aparelho. Digitei o número errado, há, há, há.

E desligou.


Quem quiser procurar o serviço SOS Redação vai ter que esperar posteriores posts, porque o glorioso Janderson esqueceu de nos passar seu e-mail e telefone de contato.

Até mais, rapaziada.

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