20 de abr. de 2009

Argumentos popperianos em favor do indeterminismo científico

A discussão determinismo versus indeterminismo sempre foi debatida na história da filosofia. E muitos dos argumentos em favor do determinismo partiram da eficácia da ciência na previsão de eventos.  O sucesso da mecânica newtoniana e das leis de Kepler para a explicação do funcionamento da natureza e para a previsão calculada de eventos futuros sugeria ser o mundo determinado e previsível.

               Isso não se dá sem problema quando o assunto é o campo moral. Whitehead fala da dicotomia ocidental da nossa crença no livre-arbítrio e nossa convicção de que a natureza se comporta como um mecanismo materialista. Essa ambigüidade se assemelha à dupla pertença religiosa dos chineses que causa espanto no Ocidente:

 
 

Todo o mundo se surpreende de que um chinês possa ser de duas religiões: confucionista em algumas ocasiões e budista em outras. Se isso é verdade quanto à China, não sei; também ignoro se, na verdade, essas duas atitudes são realmente incompatíveis. Mas não pode haver dúvida de que fato análogo é verdadeiro em relação ao Ocidente, e que as duas atitudes em questão são incompatíveis. Um realismo científico baseado no mecanismo conjuga-se com uma crença estável no mundo dos homens e dos animais superiores como constituídos de organismos autodeterminados. Essa incompatibilidade radical na base do pensamento moderno responde, em grande parte pelo que há de dúbio e instável em nossa civilização.

 
 

               De fato, nem Kant escapou a essa ambigüidade, aceitando a priori o determinismo científico e tentando resguardar a liberdade no tocante à razão prática. Ora, essa ampla aceitação de uma ciência considerada determinista acaba por conceder o melhor argumento para os que acreditam ser o mundo um mecanismo determinado.

               O objetivo de K. Popper, ao escrever o segundo volume do pós-escrito à sua "Lógica da descoberta científica", foi mostrar a inconsistência dos argumentos deterministas. Ele não se propõe a discutir as doutrinas metafísicas do determinismo e do indeterminismo, mas supõe ser possível provar que o determinismo científico não se sustenta nem mesmo nas teorias prima facie deterministas da física clássica. Na obra "O universo aberto", Popper tenta desmontar o melhor argumento determinista: o argumento do determinismo científico. Dessa forma, o autor pode questionar a solução kantiana de aceitar o determinismo científico ao aceitar a mecânica newtoniana.

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