21 de abr. de 2009

Da arma feminina

Historicamente e, por que não, pré-historicamente, o macho humano têm dominado a cena trágica na qual a nossa tosca epopéia se desenrola. Eram dele, do macho, as decisões litígio-religiosas, o poder de decidir na força bruta, ou seja, de subverter o contrato do grupo que é o de se pautar pela cooperação... Era só do macho o acesso ao coletivo, às entranhas da natureza, à ágora, ao areópago, ao saber, à filosofia, à ciência, à, à, à, ao, ao, ao... Tudo o que é exterior, o que é extrínseco, o que põe em contato é da natureza do macho, que vai.

A mulher fica. À mulher pertence o ambiente privado. O homem construiu-se, ao longo dos tempos, público... e reservou à mulher o âmbito do privado. A natureza feminina consubstanciou-se na privação. E de privação em privação, a mulher aprendeu a domar seus instintos, suas vontades. Hoje ela sabe como ninguém represar seu poder, sua ira, seu charme, para fazê-los, na hora certa, abater a presa desejada. Algumas são tão boas nisso que abatem a presa errada, sem querer hehehe...

Falando sério. Creio que aqui podemos saltar do plano cultural para o campo do biológico: Não obstante o homem possuir esse poder da força bruta, do contato com as idéias, com a ágora, com o coletivo, etc, etc, etc. ele têm, por força irresistível (OK, pós-modernos, há exceções), atração pela mulher. E quando ele se sente atraído pela mulher, ele está sob o poder dela... É inevitável... Saliente-se aqui que estamos fora da esfera dos estupradores ou dos trogloditas sexuais, pois esses não possuem mulher nenhuma, nunca, muito embora possam ter possuído ou estuprado centenas. Me fiz entender? “Ter” (odeio essa expressão) uma mulher é diferente de ter uma desfalecida, uma tristonha ou uma boneca inflável nos braços.

Voltemos ao poder da mulher. Esse poder, para ela, é providencial. Nesse universo de privação, de prisão, de amordaçamento, possuir esse poder é vislumbrar a face da liberdade. A arma feminina por excelência é esse poder de sedução, essa capacidade de enfeitiçar, de atrair para si o que passa lá fora. A força da mulher é centrípeta por excelência...

Mas esse poder não engendra-se apenas do campo biológico. Não é apenas o desejo sexual do homem que está em ação quando este se vê atraído pelo imã feminino. Há um outro fator em ação: a vontade de desvelar o que ele privou desde sempre do convívio com o coletivo. Ele a aprisionou e a esqueceu, e quando se lembrou dela, voltou-se e lhe perguntou: “Quem és?” ao que ela respondeu: “Jamais te direi, viverás à perguntar”...

Aí, meus caros, a arma dela! Aí também o medo dela! O medo dela é perder sua arma. O medo dela é se ver destituída de seu mais precioso bem: o velamento engendrado por milhares de anos; o banhamento ininterrupto no rio de Lethe ao longo de todos esses séculos.

E o que mais, meus amigos, se pode extrair disso tudo além da afirmativa de que o maior medo feminino é o medo do desvelamento?

Ora, Nietzsche disse isso num belíssimo aforismo:


A mulher aprende a odiar na medida em que deixa de encantar


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